Veja como o país mudou desde a época do casamento do príncipe Charles com a princesa Diana
Em 29 de abril, dia em que o príncipe William atravessar a nave da Abadia de Westminster, o mundo será um lugar bem diferente de quando seus pais se casaram, em 1981. Naquela época não havia e-mails, os telefones celulares começavam a surgir e tweets era apenas o nome de uma banda cuja música The Birdie Song foi tema do programa infantil Teletubbies, chegando ao segundo lugar na lista de sucessos daquele ano no Reino Unido.
Mas as mudanças não ocorreram só no mundo virtual. A Abadia de Westminster talvez tenha mudado muito pouco nos últimos 30 anos, mas o restante da capital, e certamente muitas outras cidades britânicas, modificaram-se de forma inacreditável. Quando Charles e Diana se casaram na Catedral de St Paul, em 29 de julho de 1981, o então recém-inaugurado NatWest Tower (agora chamado de Tower 42) era o edifício mais alto do Reino Unido, mas tinha apenas 183 metros de altura. Atualmente, a obra de Renzo Piano, The Shard, apesar de ainda estar em construção ao lado da Tower Bridge, já se tornou o edifício mais alto da Grã-Bretanha, superando o One Canada Square em Canary Wharf. Em 2013, quando estiver concluído, The Shard terá 310 metros.
No mesmo mês do casamento, o London Docklands Development Corporation foi criado com o objetivo de restaurar a antiga zona das docas no leste de Londres, área que havia caído em desuso. 0 Canary Wharf só seria concluído dez anos depois, ao passo que o Docklands Light Railway e o Aeroporto London City (LCY) entrariam em funcionamento após seis anos. O Museum of London Docklands é um excelente local para saber mais sobre esta região. Brick Lane, Shoreditch e Hoxton, com seus mercados vibrantes, bares animados e galerias de arte, certamente não faziam parte do roteiro habitual 30 anos atrás, mas atualmente estão entre os melhores lugares para se visitar em Londres.
O South Bank do rio Tâmisa também está completamente diferente. Em 1981, o ator americano Sam Wanamaker ainda estava em campanha para construir uma réplica do teatro Shakespeare’s Globe (as obras só começariam em 1993), enquanto o O2 Arena, que acaba de contabilizar o recorde de £ 60.3 milhões de libras em venda de ingressos e comemora seu terceiro ano consecutivo como a casa de shows mais popular do mundo, era apenas uma área de solo contaminado na península de Greenwich. E quem subiu no mirante no topo da catedral de St Paul em 1981 sabe que não havia a Millennium Bridge para ser admirada, e o que viria a ser a Tate Modern era um antigo edifício industrial abandonado: 1981 foi o ano em que a usina Bankside Power Station fechou devido ao aumento de preço do petróleo, tornando outros métodos de geração de eletricidade mais eficientes, mas isso ocorreu quase 20 anos antes de a galeria de arte abrir no local, em maio de 2000. Um das atrações turísticas mais populares de Londres, a Tate Modern espera inaugurar um novo prédio em 2012, e entre as exposições mais importantes de 2011 estão a maior retrospectiva das obras de Joan Miró nos últimos 50 anos.
Em Londres, passariam mais cinco anos até que os fãs do musical O Fantasma da Ópera começassem a formar filas que viravam o quarteirão na tentativa de comprar ingressos devolvidos, enquanto o espetáculo Cats havia estreado apenas dois meses antes, em maio de 1981. Neste ínterim, a obra de Agatha Christie, A Ratoeira, era apresentada ao público de Londres há nada menos que 30 anos. Os musicais ainda atraem multidões – Legally Blonde (Legalmente Loira) está em cartaz há um ano e, no momento, seus ingressos já estão vendidos até outubro de 2011; Priscilla Queen of the Desert está prestes a completar seu segundo ano em cartaz, enquanto se aproxima a pré-estreia de Shrek the Musical, que vai ocorrer na semana seguinte ao casamento real. Outro musical recém-lançado foi Love Story, nova adaptação do comovente livro e filme da década de 70.
Após o casamento real, em 1981, o príncipe Charles e a princesa Diana se reuniram com a família na sacada do Palácio de Buckingham diante de uma multidão eufórica na alameda (The Mall), que era o local mais próximo do palácio que os visitantes podiam chegar. Atualmente, a abertura no verão dos apartamentos oficiais do Palácio de Buckingham é um marco no calendário turístico, mas o local só começou a abrir ao público em 1993, com o intuito de angariar fundos para a reconstrução das áreas danificadas do castelo de Windsor após o incêndio ocorrido no ano anterior. Em 2011, a abertura dos apartamentos será de 1º de agosto a 25 de setembro.
Transformação das zonas portuárias
Em todo o país, outras cidades importantes também estavam prestes a passar por uma grande revitalização. Liverpool obviamente já era famosa por ser o lar dos Beatles e do Liverpool Futebol Clube, mas também abrigava os edifícios abandonados das docas e levariam ainda dois anos até que as obras de renovação fossem iniciadas, a fim de transformar a área de Albert Dock. Atualmente, é um dos principais destinos turísticos da cidade, contando com The Beatles Story, Merseyside Maritime Museum e Tate Liverpool – entre as atrações deste ano está a primeira grande exposição do famoso surrealista belga René Magritte no Reino Unido em quase 20 anos, além de oferecer ótimas opções de restaurantes e cafés. E no próximo verão está prevista a abertura do novo Museum of Liverpool, próximo ao Pier Head.
Dois dias antes de Charles e Diana atravessarem a nave da Catedral de St Paul, Ken e Deirdre Barlow (personagens de uma popular novela da televisão britânica chamada Coronation Street) se casaram, e agora comemoram 50 anos das bodas. Apesar de ser um casamento na ficção, Manchester, onde foram feitas as filmagens, mudou radicalmente desde o casamento da novela. Assim como em Londres, a zona das docas de Manchester, que foi fechada no início da década de 1980, passou por uma transformação. Salford Quays agora conta com museus e galerias como The Lowry e o Imperial War Museum North, além de Canal Street, atual centro da vida noturna da cidade, que só se consagrou como o lugar da moda no final da década de 1980 / início dos anos 1990. Em 2011, os interessados em eventos culturais não podem perder a terceira edição do Manchester International Festival, de 30 de junho a 17 de julho, evento que ocorre a cada dois anos. Aqueles que entrarem no clima romântico do casamento real vão gostar da estreia mundial de Ghost The Musical, na Manchester Opera House, em cartaz de 28 de março a 14 de maio.
A cidade de Birmingham também passou por mudanças. Houve a transformação do centro da cidade em área exclusiva para pedestres, a inauguração do Symphony Hall em 1991 e do repaginado Bullring, concluído em 2003, com a icônica loja de departamentos Selfridges. As cidades de New Castle e Gateshead, do lado oposto do rio Tyne, também foram completamente renovadas com a abertura do The Baltic Centre of Comtemporary Art em 2002, em um antigo moinho de farinha; do edifício The Sage Gateshead e a Gateshead Millennium Bridge, conhecida como “a primeira e única ponte inclinada do mundo”.
Na Escócia, Glasgow consolidou sua reputação como destino de compras, oferecendo lojas de grife e shopping centers. E houve também o surgimento da Gallery of Modern Art e do Burrell Collection, além do popular Kelvingrove, que recentemente passou por uma grande reforma. The Glasgow School of Art faz parte do mapa cultural há décadas, mas a contribuição de seu arquiteto, Charles Rennie Mackintosh, foi ainda maior ao longo da última década e a Mackintosh Trail (rota Mackintosh) agora se consagrou no mapa turístico da cidade.
E este ano há mais um bom motivo para visitar Glasgow – a abertura do novo Riverside Museum no início do verão europeu, projetado por Zaha Hadid (a mesma arquiteta que assina o projeto do Centro Aquático no Parque Olímpico de Londres). O museu será o novo lar do excelente acervo de transportes da cidade, localizado onde o rio Clyde e o rio Kelvin se encontram, no coração de Glasgow Harbour. Os visitantes vão encontrar um vasto espaço aberto, dividido em dois andares e exibindo mais de 3.000 objetos, desde locomotivas, bondes e carros até maquetes de navios e motocicletas. A maioria dos objetos fará parte de uma das 150 exibições do museu, que vão contar as histórias pessoais por trás de cada objeto e apresentar centenas de indivíduos: de fabricantes de bicicleta e condutores de bonde a operários de estaleiros e bombeiros.
Na capital galesa, o Cardiff Bay Development Corporation foi criado em 1987 para restaurar a zona das docas, com o Wales Millennium Centre, inaugurado em 2004, entre as principais atrações da região, enquanto o Millennium Stadium, aberto em 1999, passou a ser um local de nível internacional para eventos esportivos e culturais como concertos e shows.
Dos gastropubs aos spas
Mas não foi apenas a arquitetura da Grã-Bretanha que mudou nos últimos 30 anos. O estilo de vida dos britânicos e, consequentemente, dos visitantes do Reino Unido, também mudou. A culinária é um bom exemplo: em 1981 Jamie Oliver, com 6 anos, tinha idade suficiente apenas para comer merendas escolares, enquanto Gordon Ramsay ainda era estudante e tinha esperanças de ser um jogador de futebol profissional. Na década de 1980, as pessoas iam aos pubs só para beber. Não havia o hábito de comer em pubs. O Eagle em Clerkenwell, Londres, reconhecido como o primeiro gastropub, só começaria a servir boa comida em um ambiente de pub cerca de 10 anos depois. A “revolução” da comida começava na capital, mas desde então se espalhou pelo país. Atualmente, todas as regiões servem boa comida em pubs e restaurantes, não só nas grandes cidades, mas também nos vilarejos do interior e estâncias balneárias. A Cornualha, por exemplo, já costumava ser um dos principais destinos turísticos, mas a gastronomia provavelmente não era uma das atrações principais. Agora, Rick Stein transformou Padstow em um destino gastronômico, e em todo o litoral, em cidades como St Ives e Fowey, os visitantes podem desfrutar de culinária excelente com lindas paisagens.
A hotelaria do país também não é mais a mesma com a abertura de novas redes de hotéis-boutique em todo o país, como o Malmaison e o Hotel du Vin, que oferecem estilo e informalidade, e a criação de spas em diversos hotéis. Cada vez mais, os turistas querem praticar atividades físicas nas férias, por isso os centros de atividades esportivas também cresceram rapidamente na década de 1990 e hoje oferecem uma gama muito maior de atividades, como o coasteering, que alçou voo (como os seus participantes) em lugares como Pembrokeshire e oeste do País de Gales.
Os britânicos e os turistas apreciam o fato de hoje poder entrar em museus e galerias gratuitamente, mas o governo só introduziu a entrada franca para todo o acervo nacional em 2001. Também é natural hoje em dia encontrar bons cafés e restaurantes juntamente com as exposições – e o período testemunhou uma verdadeira transformação nas opções: foi em 1980 que o Victoria & Albert Museum criou um anúncio controverso que dizia “um café primoroso com um interessante museu agregado”. Como exemplos atuais podemos citar o Portrait Restaurant na National Portrait Gallery, que proporciona uma vista fabulosa da Coluna de Nelson e do skyline de Londres, assim como o Tower Restaurant no National Museum of Scotland, de onde se vê a paisagem de Edimburgo, e o café do Tate St Ives, acima dos telhados da cidade.
A Grã-Bretanha é mundialmente famosa por seus jardins e, obviamente, alguns dos melhores são centenários, mas 30 anos atrás, dois dos mais populares ainda não existiam. The Alnick Garden, em Northumberland, tem apenas 10 anos e a ideia do Eden Project surgiu nos anos 1990, durante a restauração do vizinho Lost Gardens of Heligan por Tim Smit. E no ano em que Charles e Diana se casaram, Tony e Eira Hibbert compraram Trebah na Cornualha para ser um retiro, onde eles poderiam desfrutar da aposentadoria com paz e tranquilidade, e estariam livres de trabalho, preocupações e responsabilidades. Eles descobriram, tarde demais, que sob o matagal que havia crescido ali, estavam os resquícios de um jardim outrora famoso. O casal foi convencido a desistir dos três primeiros anos de aposentadoria para restaurar o jardim.
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