quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A terceira inteligência

por: Floriano Serra

A liderança ou o modelo de gestão que se fundamentar na Terceira Inteligência certamente terá colaboradores muito mais comprometidos, motivados, felizes e, por conseqüência, mais produtivos

Sei que o Goleman agitou um bocado o campo comportamental nas empresas, especificamente o das relações interpessoais, quando resgatou o que ele chamou de Inteligência Emocional e que, em essência, nada mais é do que aquilo que a Psicologia há tempos, através de várias formas e teorias, já vem propondo para o auto-conhecimento, o controle das emoções e o desenvolvimento da empatia e da habilidade de estabelecermos comunicações harmoniosas. Qualquer estudioso mais atento da dinâmica do comportamento humano sabe disso.

O que venho defendendo através de artigos, entrevistas e palestras - e, daqui a mais um ou dois meses, também através de um livro que se chamará “A Terceira Inteligência” - é que não basta um perfeito domínio das emoções para assegurar que estamos no caminho certo, em direção ao sucesso e à felicidade. Esses objetivos só podem ser atingidos sob a condição da pessoa estar bem consigo mesma e com as demais pessoas.

As ações motivadas exclusivamente pela emoção quase sempre têm fortes componentes de busca do prazer ou de fuga de desconforto. Nestes casos, o comando para a ação (ou a falta dela) é “faço porque gosto” ou “não faço porque não gosto” – entendendo-se aqui o verbo “gostar” da maneira mais ampla e irrestrita possível.

A questão que proponho para a reflexão do leitor é:
- “Ok, faço porque gosto. Mas que garantias eu tenho de que minha ação, motivada pela minha emoção, ainda que perfeitamente administrada, será boa também para as outras pessoas? “

Se eu não tiver essa garantia, minha ação emocional apenas refletirá um baita egocentrismo: “é boa para mim, os outros que se danem!”. Ou seja, o perfeito conhecimento e controle da inteligência emocional não garante necessariamente que a ação seja saudável, legal, ética e útil. Daí existirem a manipulação e a famigerada chantagem emocional.

Alguém poderá contra-argumentar: “ah, mas é justamente para evitar isso que existe a racionalidade! Se unirmos as duas inteligências, a racional e a emocional, então teremos a ação ideal, certo?”

Errado.

O processamento racional do conhecimento e das informações nos conduz à ação dita “lógica” e nos induz a fazer aquilo que acreditamos que nos convém ou que nos interessa, e não necessariamente o que é legal, ético e saudável.

No mundo corporativo ou fora dele, razão e emoção não têm moral: as grandes e inteligentes fraudes financeiras ou os dramáticos crimes passionais acontecem justamente porque sua dinâmica de ação parte desse binômio: me interessa (ou me convêm) e me agrada (ou me satisfaz). É esse o processo que, em termos existenciais e comportamentais, alimenta, de forma distorcida, a lei de causa e efeito: “se eu agir assim, sairei ganhando (racional) e isso é bom! (emocional)”

O crivo que está faltando para assegurar que nossa ação, atitude ou comportamento serão positivos é o da avaliação das conseqüências da nossa ação para o outro, para os amigos, os colegas de trabalho, a empresa, a comunidade, a sociedade. É fundamental um auto-questionamento:

O que e quanto há de generosidade e de solidariedade nesta minha ação?
Estou produzindo alegria, sorrisos e felicidade também aos outros ou, pelo contrário, estou causando preocupações, angústias, sofrimentos e lágrimas?
Estou somando ou multiplicando competências, crescimento e bem estar ou estou diminuindo e dividindo sentimentos, pessoas, equipes e comunidades?
A Terceira Inteligência é simples assim. Ela se sobrepõe a conveniências pessoais e a interesses meramente materiais e caracteriza as ações sobretudo pela generosidade e pelo respeito ao próximo. É ela que nos faz transcender ao ego, como diz Deepak Chopra, fazendo-nos substituir a pergunta “O que vou ganhar com isso?” por “Como posso ajudar?”

Certamente, a Terceira Inteligência tem um forte componente espiritual – e aqui é importante que se diga que isso não implica necessariamente práticas e conceitos religiosos. A dimensão espiritual que defendo com a Terceira Inteligência tem a ver com o desejo sincero de compartilhar, sem discriminações de raça, cor, credo, aparência e posses, pela consciência de que tanto uma empresa como a sociedade e o mundo inteiro são uma grande família. Como se todos soubessem que, como disse o poeta americano John Donne, "nenhum Homem é uma ilha, isolado em si próprio (...)” e que quando os sinos dobram – por mais longe que estejam – também dobram por cada um de nós, porque a raça humana é um todo composto por irmãos.

Nas empresas, a liderança ou o modelo de gestão que se fundamentar na Terceira Inteligência, certamente terá colaboradores muito mais comprometidos, motivados, felizes e, por conseqüência, mais produtivos.

Não sou tão ingênuo a ponto de acreditar que será fácil vender essa idéia a empresários e gestores, para os quais, com poucas e honrosas exceções, o poder é um irresistível objeto de desejo. Eu apenas planto sementes. Minha vantagem é que sou teimoso e persistente pra caramba – sem o menor receio de ser taxado de sonhador ou utópico.

Quando encontro pessoas que concordam comigo, fico muito feliz. Quando alguém discorda, não me aborreço, mas considero isso um desafio – e todo desafio me estimula. E tudo que me estimula me alegra e me diverte.

Logo, nessa missão de humanizar as relações profissionais, tenho alegria e diversão garantidas – de uma forma ou de outra.

* Floriano Serra é colunista do Empregos.com.br, psicólogo, palestrante e Diretor de Recursos Humanos e Qualidade de Vida da APSEN Farmacêutica.

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