domingo, 22 de maio de 2011

A Perversão da Monogamia

Por: Floriano Serra


Recentemente o ator Caio Blat concedeu uma entrevista divulgada pela imprensa, durante a qual ele disse uma frase que achei admirável. Com outras palavras, disse o seguinte:
— Sou um pervertido. Sou monogâmico e sou feliz assim. Logo, sou um pervertido.
Essa frase reflete com muita espirituosidade a grande inversão de valores pela qual o comportamento afetivo das pessoas vem passando.

Talvez uma das primeiras conseqüências dessas mudanças tenha sido a desvalorização da virgindade, que, num passado não muito distante, se constituía num dos grandes tabus masculinos. Hoje já nem se fala mais nisso, mas, adaptando-se aquela frase do ator, também se poderia classificar de “pervertida” a adolescente que se mantém virgem nos tempos atuais.

A banalização do sexo também se tornou retrato dessa inversão de valores – basta observarmos certas letras de “músicas” e o conteúdo verbal e visual de alguns programas televisivos e entrevistas — inclusive também divulgadas por determinadas revistas. Ficou comum as pessoas falarem publicamente dos seus hábitos sexuais, nos mais íntimos e picantes detalhes.

Devemos incluir na lista desses “novos valores” o desgaste afetivo e emocional do “eu te amo”, que passou a ser usado generosa e fartamente no lugar de “eu gosto de você” – o que, inclusive, já foi tema de artigo nosso aqui na “Dolce”.
Na destruidora onda desse tsunami amoroso, agora parece também estar caindo por terra a prática da fidelidade, que, diante das constantes e publicamente anunciadas troca de parceiros, parece que tende a brevemente se tornar mais um “mito”. A monogamia, de tão rara, “esquisita” e “anormal” em que se transformou nos novos tempos, é agora um comportamento “patológico”, uma “aberração atitudinal” — e, portanto, uma perversão, como bem disse o Caio Blat, de forma criativa e inspirada.

Para aqueles leitores da minha geração — aquela que já entrou na faixa dos sessenta, tem sido um grande exercício diário testar a capacidade de adaptação aos novos valores afetivos e sexuais. Ou seja, testar a nossa capacidade de “atualizar valores” ou “rever os conceitos”. — expressões que podem ser traduzidas como “esquecer aqueles valores dentro dos quais fomos educados e substituí-los passivamente pelos atuais”.

Para as pessoas que não quiserem adotar essa saída, há a alternativa de assumir um saudosismo melancólico e ficar repetindo: “Ah, que saudade daqueles tempos...” Convenhamos que é bem melhor do que o pessimista “Este mundo está perdido...”
Você decide.


*Floriano Serra é psicólogo, palestrante e autor de vários livros e inúmeros artigos sobre o comportamento humano profissional e afetivo.

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