O
Trânsito e as Novas Relações de Trabalho
Por: Tom Coelho
"Não
importa onde você trabalha, há mais de uma forma de criar um projeto,
onde
o entusiasmo é palpável, onde algo que possa fazer a diferença esteja
ao
virar a esquina."
(Marcelo
Costa)
Mobilidade.
Este é um dos maiores desafios de um mundo com sete bilhões de
pessoas.
E não apenas para as grandes cidades.
Não
é o direito, mas a capacidade de ir e vir que está comprometida. Dia
destes,
devido a uma chuva intensa e prolongada, levei quase duas horas para
percorrer
seis quilômetros.
A
questão ambiental está em voga. Porém, poucos percebem que um carro
trafegando
a uma velocidade média de pedestre consome mais pneus e pastilhas
de
freio, aumenta sua depreciação e eleva o consumo de combustível às
alturas,
despejando mais gases de efeito estufa e poluindo ainda mais o ar.
A
falta de transporte coletivo em quantidade e de qualidade impede a
integração
do automóvel com as redes de ônibus, trem e metrô. E mesmo as
estações
inauguradas recentemente não dispõem de edifício-garagem para
estimular
o motorista a rodar menos com seu carro.
A
mobilidade não é apenas um problema de infraestrutura viária, mas de saúde
pública.
Afora a perda material, há efeitos intangíveis e de difícil
mensuração.
Primeiro, o tempo das pessoas, que deixam de cumprir
compromissos
e realizar tarefas diversas porque estão presas no trânsito.
Reuniões
canceladas, clientes e pacientes não atendidos, produção que deixa
de
ser gerada.
Segundo,
o estresse. A paciência, a tolerância e o equilíbrio emocional são
colocados
à prova ao extremo, trazendo à tona o que há de pior nas pessoas.
Motoristas
que não dão passagem a pedestres e a outros veículos,
motociclistas
que trafegam irresponsavelmente em alta velocidade pelo
corredor
formado entre as faixas de rolagem, gente que ocupa assentos
preferenciais
no transporte coletivo e não os cedem a quem de direito.
Aliás,
são os mais pobres os que mais sofrem. O desenvolvimento econômico
empurrou
os trabalhadores para a periferia das cidades, exigindo-lhes
despertar
no final da madrugada para se dirigirem ao trabalho, desperdiçando
até
seis horas diárias para ir e voltar.
Nossa
sociedade está privando as pessoas do convívio familiar e minando a
saúde
de seus trabalhadores. Aumentam os acidentes de trabalho, em
decorrência
do cansaço e da desatenção durante a atividade laboral, bem como
os
acidentes de trajeto. Crescem o absenteísmo, o presenteísmo, as doenças
profissionais
e psicossomáticas.
Enquanto
os governos não fazem sua parte, mitigando os já mencionados
problemas
de infraestrutura, é premente repensar as relações de trabalho,
incentivando
o trabalho à distância, mediante uma gestão por confiança capaz
de
prescindir da presença física dos colaboradores na sede da empresa.
Precisamos
avançar na qualidade da conexão de banda larga para estimular as
videoconferências.
São muitas as questões que podem e devem ser resolvidas
on-line
ou por telefone. O trabalho SOHO (small office, home office) é uma
necessidade
hoje e não do futuro.
É
evidente que temos uma legião de trabalhadores operacionais que jamais
poderão
ser incluídos neste sistema. Ainda nos anos de 1990 eu pretendia
implantar
uma jornada flexível, mas era impraticável dentro de uma atividade
industrial
na qual o processo produtivo é sequencial. Se o responsável pelo
corte
do aço decidisse chegar mais tarde, os soldadores não teriam
matéria-prima
para trabalhar, comprometendo todo o sistema...
Por
fim, cabe também um alerta aos profissionais. Conheço uma empresa que
oferece
café e pão com manteiga às oito horas da manhã aos seus vendedores
apenas
para exigir-lhes a presença no escritório antes de saírem à rua para
as
visitas agendadas, impedindo que alguns resolvam simplesmente dormir até
depois
das dez, expondo mais do que sua falta de profissionalismo, a
ausência
de comprometimento.
*
Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17
países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,
liderança
e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições para
construir
seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautor
de
outras cinco obras. Contatos através do e-mail
<mailto:tomcoelho@tomcoelho.com.br>
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite:
<http://www.tomcoelho.com.br/>
www.tomcoelho.com.br e
<http://www.setevidas.com.br>
www.setevidas.com.br
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