Por
Tom Coelho
"Quem
tem um porquê suporta qualquer como."
(Viktor
Frankl)
Emmanuelle
Garrido tem formação em Direito e ocupa cargo de chefia. Apesar de ser
deficiente visual desde os seis meses de idade.
Monique
Romano é gerente comercial e conseguiu superar uma grave crise
financeira
em sua empresa. Apesar da queda expressiva nas vendas ocorrida em determinado
período.
Giselle
Dellatorre trabalha para melhorar a qualidade de vida de crianças
com
doença
Rodney
Santos celebra todos os anos sua maior conquista pessoal: a vitória
pela
vida, após superar um câncer. Apesar do pessimismo de muitos, anos
atrás.
Todos
os nomes mencionados são de leitores, hoje amigos, com os quais me
correspondo.
Não são celebridades, participantes de reality shows ou
receberam
heranças ou facilidades. São pessoas diferentes porque decidiram
enfrentar
a mediocridade, o pessimismo, a negligência.
É
comum nos abatermos diante das dificuldades. E superdimensioná-las. Nossos problemas
são sempre mais relevantes do que os dos outros. Contratempos revestem-se de
tragédias. Sentimo-nos incapazes, impotentes, injustiçados.
A
frase que introduz este texto é do psiquiatra e psicólogo austríaco Viktor
Frankl,
criador da logoterapia, segundo a qual o desejo de encontrar um
significado
para a vida é a motivação básica do comportamento de um
indivíduo.
Estabelecer e perseguir um objetivo trilhando o próprio destino é
aspecto
mais relevante do que satisfazer instintos e aliviar tensões, como
sustenta
a psicanálise convencional.
Frankl
pertencia à corrente judaica socialista marxista, a classe de judeus
mais
odiados por Hitler. Passando por quatro campos de concentração entre
1942
e 1945, perdeu os pais, a esposa e um irmão, sofrendo com os maus
tratos
e a fome. Mas sobreviveu, por seus princípios e por seus propósitos.
Teorizando
a partir de suas observações e sua própria experiência, Frankl
observou
que um indivíduo pode encontrar um sentido para sua vida a partir
de
três vias (com base nos escritos do filósofo Rubem Queiroz Cobra):
1. Criando um trabalho, realizando um feito
notável ou sentindo-se
responsável
por terminar um trabalho que depende fundamentalmente de seus
conhecimentos
ou de sua ação. Aqui poderíamos relacionar as contribuições de personalidades
como Pasteur, Einstein e Bohr, entre outros.
2. Experimentando um valor, algo novo, ou
estabelecendo um novo
relacionamento
pessoal. Esse é o caso de uma pessoa que está consciente da
responsabilidade
que tem em relação a alguém que a ama e espera por ela. O
amor
incondicional de uma mãe por um filho exemplifica essa tese.
3. Pelo sofrimento, suportando as amarguras
inevitáveis diante da
consciência
de que a vida ainda espera muito de sua contribuição em relação
às
demais pessoas, como aconteceu com o próprio Frankl.
Nestes
três casos, a resposta do indivíduo deixa de ser a perda de tempo em
conversas
e meditação, e se torna a ação correta e a conduta moral objetiva.
Tenho
visto empresas que produzem e geram empregos, apesar dos juros
elevados,
da carga tributária indecente, da carestia das linhas de crédito.
Tenho
visto profissionais que são promovidos, apesar de uma formação
acadêmica
deficitária, da ausência de um MBA ou da fluência em outro idioma.
Tenho
visto pessoas que praticam ações filantrópicas, levando consigo o
carinho
do olhar, o calor do abraço e o conforto da palavra, apesar de
pessoalmente
não necessitarem disso.
Tenho
visto casais que se reconciliam e amantes que se saciam, apesar das
divergências
e da eventual discórdia.
Aprecio
muito o conceito de resiliência, a capacidade de superar
adversidades.
E meu amigo Roberto Ambrósio presenteou-me com uma metáfora sobre o boxe, um
esporte duro e violento que nos lega de forma muito especial o conceito de
assimilação.
Um
boxeador toma um direto de direita e assimila, bem ou mal, o choque
sofrido.
Assimilar é tornar-se semelhante a. Como se o golpe passasse a ser
uma
parte da própria pessoa, modificando-a externa e internamente. O
boxeador
sofre, baqueia, devolve a energia potencial em forma de
persistência
(permanecer em pé), ou em forma de
contragolpes defensivos,
mas
acima de tudo aprende enquanto assimila. Aprende que a guarda deveria
estar
mais alta, que a esquiva deveria ocorrer um décimo de segundo antes.
Aprende
com a dor e aprende sozinho.
Também
tenho aprendido a oferecer menos resistência aos sacrifícios
impostos,
a suportar melhor as dificuldades, a ser mais tolerante. E a
encontrar
um sentido para a vida. Apesar dos que a tudo isso se opõem.
*
Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17
países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,
liderança
e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições para
construir
seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautor
de
outras cinco obras. Contatos através do e-mail
<mailto:tomcoelho@tomcoelho.com.br>
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite:
<http://www.tomcoelho.com.br/>
www.tomcoelho.com.br e
<http://www.setevidas.com.br>
www.setevidas.com.br
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